quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

XILOGRAVURA


A professora de J. Borges


A XILOGRAVURA* é uma arte de entalhe na madeira utilizada para a impressão em superfícies planas. 
A xilogravura chegou ao Brasil com a colonização desenvolvendo-se com a Literatura de Cordel. O lugar de sua origem não se sabe com precisão, mas, provavelmente tenha surgido na China, por volta do século VI. O artista é chamado de xilógrafo.

Está presente nas capas** dos cordéis e trabalho semelhante, senão o mesmo, é utilizado para confeccionar carimbos. 

COMO FAZER:

Após desenhar na madeira, o artista a esculpe, fazendo relevos. 

Disponível em:http://www.prefeitura.sp.gov.br

Para isso utiliza-se de ferramentas de entalhe na madeira que vai desde o formão reto às ferramentas curvadas. Os desenhos sairão do lado contrário na impressão.

A parte a seguir é a de passar a tinta na parte elevada, com um rolinho de borracha.

Disponível em: artedesignstudio.com.br

Geralmente a tinta é de cor preta. Mas colorido fica lindo também.
Disponível em: Gelladeira


A impressão pode ser manual ou por meio de prensas.

Disponível em: Teatro de Cordel


*XILO (grego) = MADEIRA.
**Hoje também encontramos desenhos digitais para representar o cordel.


MAIS:
Teatro de cordel: http://xilocordel.blogspot.com.br/
Cantinho da Unidade: http://cantinhodaunidade.com.br/xilogravura-voce-sabe-o-que-e/
Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Xilogravura

XILOGRAVURA na SALA de AULA

Na postagem anterior falamos sobre xilogravura ou xilografia.
Aqui sugerimos uma atividade simples que pode ser feita em uma ou duas aulas com os alunos.

MATERIAL:

Folhas de madeira, placa de MDF, tesoura, tinta e rolinho e papel para a impressão.

COMO FAZER:

Primeiro desenhamos na folha de madeira e recortamos o desenhos em partes grandes.
Depois colamos o desenho na placa de MDF, menor que uma folha de sulfite, com cola branca.


Esperamos secar. Os desenhos devem ser simples, pois a folha da madeira tende a encurvar. Também vale lembrar que os traços rústicos são característicos dessa arte.

Depois entintamos: para essa atividade usamos pincel, cuidando para não encharcar o desenho.

Cátia
Josi

A impressão veio em seguida. Em vez de virarmos a madeira, colocamos a folha por cima dela, centralizando o desenho.


Uma corda foi colocada ao centro da sala para expormos as obras.


Para os pequeninos vai a sugestão de atividades do blog da Nireuda Longobardi, com bandejas descartáveis.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Entre palavras e versos, o Cordel

Quando se fala em Cordel logo me lembro da infância, das páginas que folheei e das histórias que ouvi. É bem assim que a LC entrou na minha vida, mas que vim percebê-la somente há meses atrás. Histórias como Juvenal e o Dragão, Pedro Malazarte,  e tantos outros títulos são ricos em rima, desdobramento do escritor e muita risada.
Lembrando que um texto de humor não se insere apenas no campo do riso, mas que merece um espaço nos estudos acadêmicos, quero trazer aqui um em especial. Trata-se do cordel de Janduhi Dantas, A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99. Muito interessante a leitura, pois este cordel se prontifica a apoiar a mulher no seu desejo de utilidade para a sociedade. Uma mulher que toma as rédeas da situação e a resolve. Mulher que muitas vezes é pai e mãe e tantos outros atributos. Vejo-o como um protesto misto: do desejo de ser e de que o outro também seja. 

O cordel A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99, de Janduhi Dantas (2005), conta a história de um casal: a mulher, Côca, cansada das atitudes do marido, Damião, que vive bêbado todo o tempo, decide vendê-lo no mercado de Patos, cidade paraibana. Em sua fala faz oferta do seu "produto", o marido, para as outras mulheres que se encontram ali.

"A MULHER QUE VENDEU O MARIDO
POR R$ 1,99"

Autor: Janduhi Dantas
jdantasn@yahoo.com.br

Hoje em dia, meus amigos
os direitos são iguais
tudo o que faz o marmanjo
hoje a mulher também faz
se o homem se abestalhar
a mulher bota pra trás.

Acabou-se aquele tempo
em que a mulher com presteza
se fazia para o homem
artigo de cama e mesa
a mulher se fez mais forte
mantendo a delicadeza.

Não é mais "mulher de Atenas"
nem "Amélia" de ninguém
eu mesmo sempre entendi
que a mulher direito tem
de sempre só ser tratada
por "meu amor" e "meu bem".

Hoje o trabalho de casa
meio a meio é dividido
para ajudar a mulher
homem não faz alarido
quando a mulher lava a louça
quem enxuga é o marido!

Também na sociedade
é outra a situação
a mulher hoje já faz
tudo o que faz o machão
há mulher que até dirige
trem, trator e caminhão.

Esse fato todo mundo
já deu pra assimilar
a mulher hoje já pôde
seu espaço conquistar
quem não concorda com isso
é muito raro encontrar.

Entretanto ainda existe
caso de exploração
o salário da mulher
é de chamar atenção
bem menor que o do homem
fazendo a mesma função.

Também tem cabra safado
que não muda o pensamento
que não respeita a mulher
que não honra o casamento
que a vida de pleibói
não esquece um só momento.

Era assim que Damião
(o ex-marido de Côca)
queria viver: na cana
sem tirar copo da boca
enquanto sua mulher
em casa feito uma louca...

... cuidando de três meninos
lavando roupa e varrendo
feito uma negra-de-ferro
de fome o corpo tremendo
e o marido cachaceiro
pelos botequins bebendo.

Mas diz o velho ditado
que todo mal tem seu fim
e o fim do mal de Côca
um dia chegou enfim
foi quando Côca de estalo
pegou a pensar assim:

"Nessa vida que eu levo
eu não tô vendo futuro
eu me sinto navegando
em mar revolto e escuro
vou remar no meu barquinho
atrás de porto seguro."

"Na próxima raiva que eu tenha
desse meu marido ruim
qualquer mal que me fizer
tomarei como estopim
e a triste casamento
eu vou decidir dar fim."

Estava Côca pensando
na vida quando chegou
Damião morto de bêbado
(nem boa-noite falou
passava da meia-noite)
e na cama se atirou!

Dona Côca foi dormir
muito trise e revoltada
contudo tinha na mente
a sua ação planejada
pra dar novo rumo à vida
já estava preparada.

De manhã Côca acordou
com a braguilha pra trás
deu cinco murros na mesa
e gritou: "Ô Satanás
eu vou te vender na feira
vou já fazer um cartaz!

Pegou uma cartolina
que ela havia escondido
escreveu nervosamente
com a raiva do bandido:
"Por um e noventa e nove
estou vendendo o marido".

Assim mostrou ter no sangue
sangue de Leila Diniz
Pagu, Maria Bonita
de Anayde Beiriz
(de brasileiras de fibra)
de Margarida e Elis!

Pegou o marido bêbado
de jeito, pela abertura
da direção do mercado
ela saiu à procura
de vender o seu marido
ia com muita secura!

Ficou na feira de Patos
no mais horrendo lugar
(na conhecida U.T.I.)
e começou a gritar:
"Tô vendendo o meu marido
quem de vocês quer comprar?"

Umas bêbadas que estavam
estiradas pelo chão
despertaram com os gritos
e uma do cabelão
perguntou a Dona Côca:
"Qual o preço do gatão?"

"É um e noventa e nove
não está vendo o cartaz?"
Dona Côca respondeu
e a bêbada disse: "O rapaz
tem uma cara simpática
acho até que vale mais".

Damião estava "quieto"
e de ressaca passado
com cordas nos pés e braços
numa cadeira amarrado
também tinha um esparadrapo
em sua boca colado.

Começou a chegar gente
se formou a multidão
em volta de Dona Côca
e o marido Damião
quando deu fé, logo, logo
encostou o camburão.

Nisso um cabo da polícia
do camburão foi descendo
e perguntando abusado:
"Que é que tá acontecendo?"
Alguém disse: "Esta mulher
o marido está vendendo".

Do meio do povo disse
um velho em tom de chacota:
"Esse carneiro já tem
uma cara de meiota
não tem mulher que dê nele
de dois reais uma nota".

E, de fato, ô cabra feio
desalinhado e barbudo
fedendo a cana e a cigarro
com um jeito carrancudo
banguelo, um pouco careca
pra completar barrigudo.

Nisso chegou uma velha
que vinha com todo o gás
e disse para si mesma
depois de ler o cartaz
"Hoje eu tiro o prejuízo
com esse lindo rapaz!".

Disse a velha: "Francamente!
Eu estou achando pouco!
Por 1 e 99?!
Tome dois, nem quero o troco!
Deixe-me levar pra casa
esse meu Chico Cuoco!".

Saiu a velha enxerida
de braços com Damião
a polícia prontamente
dispersou a multidão
e Côca tirou por fim
um peso do coração.

Retornou Côca feliz
pra casa entoando hinos
a partir daquele dia
teria novos destinos...
Com os dois reias da venda
comprou de pão pros meninos. FIM


DANTAS, Janduhi. A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99, 2005. Disponível em: <http://www.camarabrasileira.com/cordel48.htm>. Acesso em: 01 dez. 2014.

LITERATURA DE CORDEL - pincelada histórica

Fonte: jeanwyllys.com.br



Uma pincelada sobre esta literatura popular que cada vez mais se insinua e se incide no meio acadêmico.


A Literatura de Cordel (LC), como conhecida no Brasil, teve suas origens em Portugal associada à cantoria trovadoresca, chegando ao Brasil com os colonizadores, e se instalando, inicialmente, em Salvador, Bahia. Ali a convergência cultural aconteceu enquanto Bahia era a capital do Brasil, sendo que em 1763 a capital foi transferida para o Rio de Janeiro. Da Bahia, a Literatura se espalhou para os demais estados do nordeste, posteriormente. Isso pode justificar a predominância do solo nordestino no desenvolvimento da LC.
Mas antes da sua presença no Brasil, suas vozes já eram ouvidas entre outros povos: a LC já existia na época em que as lutas pela Península Ibérica movimentavam greco-romanos, fenícios, cartaginenses, saxões, dentre outros. A chegada em solo português aconteceu por volta do século XVI, recebendo o nome de "folhas soltas" ou "volantes".
Por volta de 1750, alguns anos depois da colonização é que apareceram os primeiros poetas da LC ainda na oralidade. A oralidade marca o cordel, pois trata-se de uma literatura que é feita não apenas para se ler, mas para também se ouvir. Permaneceu por um longo período sem nome sendo batizada de poesia popular. Os poetas do improviso, como são vistos esses primeiros cordelistas, são os precursores da LC escrita. Os registros são muitos vagos, sem consistência confiável, de repentistas ou violeiros antes de Manoel Riachão ou Mergulhão, mas Leandro Gomes de Barros, nascido no dia 19 de novembro de 1865, teria escrito a peleja de Manoel Riachão com o Diabo, em fins do século 20.
O cordelista, nos primórdios da LC, era o homem comum, da roça, geralmente sem estudos acadêmicos. Era o trabalhador que realizava os serviços braçis geralmente sem prestigio social. Porém através dos cordéis podemos perceber que os cordelistas não eram desinformados: conheciam as lutas diárias do povo, os problemas sociais, e apesar de não possuírem partidarismo político sabiam da política. A associação do cordelista com o público se refletia na escrita. Na atualidade, a LC é composta por uma classe variada de escritores de níveis de escolaridade também variados, mas ainda é uma forma de falar do povo.
Sobre a importância da LC e a aplicação dos mesmos critérios de avaliação da LC para a literatura "culta", Oliveira (2014, p.93) comenta:
Nem se discute a importância qualitativa dos folhetos pelos milhares e milhares de títulos que povoam as livrarias e feira do Brasil. No que diz respeito à qualidade literária, também merece toda a atenção. Neste ínterim, poderíamos reconhecer o erro que perdurou por longo tempo em querer “medir o valor dos poemas populares aplicando-lhes os critérios que servem para a literatura oficial ou culta”, declara Raimundo Cantel, p. 371.
Na prática, a LC, como coloca Oliveira (2014, p.7), é "um veículo de informação de notícias políticas e campanhas publicitárias de secretarias de saúde dentro de um modo de fazer poesia e humor ao mesmo tempo". Os folhetos materializam a literatura e são agrupados em "ciclos". Os ciclos variam de acordo com os pesquisadores. Adotaremos aqui a classificação apresentada por Irani Medeiros (2004). Segundo a pesquisadora, a LC é dividida em alguns ciclos, como vemos: Ciclo da Utopia, Ciclo do Marido Logrado, Ciclo do Demônio Logrado, Ciclo dos Bichos que Falam, Ciclo Erótico da Obscenidade, Ciclo de Exemplos e Maldições, Ciclo Heroico ou Fantástico, Ciclo Histórico e Circunstancial, Ciclo do Amor e Bravura, Ciclo da Súplica e o Ciclo da Lamúria. Vão desde os de cunho de utilidade pública ao de satirização. Vale, no entanto, lembrar que o folheto não está preso a um ciclo. Na atualidade nem todos os folhetos são expostos em cordas, nas feiras; são também encontrados em bancas de jornal expostos em espaços únicos, não acavalados como antes. A título de curiosidade, o termo cordel, não condiz com a fala nordestina visto que a nomenclatura utilizada no Nordeste é cordão ou barbante, mas a forma de se expor os livretos determinou o nome das obras.
Para a confecção das capas, adota-se a xilogravura, arte feita no entalhe da madeira transformando-a em imagens rústicas. As imagens retratam a histórias. É um trabalho artesanal. Existem outros tipos de capas que os autores utilizam, mas a xilogravura é a forma própria da LC.
Apesar dos registros da LC serem recentes como literatura, há uma academia voltada para a sua apresentação e preservação, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), situada no estado do Rio de Janeiro. Em seu site de mesmo nome podemos encontrar o histórico da LC, embora possamos também encontrar informações em outras fontes; diversos cordéis e cordelistas brasileiros, como também dados da composição de um cordel e a forma de se criar um. Ainda no site o anseio do poeta que sua produção se torne de objeto de estudo pode ser vista na seguinte fala: "[...] esta maravilhosa manifestação da inteligência brasileira merecerá no futuro, um estudo mais profundo e criterioso de suas peculiaridades particulares" (ABLC).

Referências

ABLC. Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Disponível em: <www.ablc.com.br>. Acesso em 01 dez. 2014.

MEDEIROS, Irani. Literatura de cordel: origem e classificação. In: BATISTA, Maria de Fátima Barroso de Mesquita, et. Al. Estudos em Literatura Popular. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2004.

OLIVEIRA, Davi da Silva. Cordel. São Paulo: Clube de autores, 2014.