Fonte: jeanwyllys.com.br |
Uma pincelada sobre esta literatura popular que cada vez mais se insinua e se incide no meio acadêmico.
A
Literatura de Cordel (LC), como conhecida no Brasil, teve suas origens
em Portugal associada à cantoria trovadoresca, chegando ao Brasil com os colonizadores,
e se instalando, inicialmente, em Salvador, Bahia. Ali a convergência cultural
aconteceu enquanto Bahia era a capital do Brasil, sendo que em 1763 a capital foi
transferida para o Rio de Janeiro. Da Bahia, a Literatura se espalhou para os
demais estados do nordeste, posteriormente. Isso pode justificar a
predominância do solo nordestino no desenvolvimento da LC.
Mas
antes da sua presença no Brasil, suas vozes já eram ouvidas entre outros povos:
a LC já existia na época em que as lutas pela Península Ibérica movimentavam greco-romanos,
fenícios, cartaginenses, saxões, dentre outros. A chegada em solo português
aconteceu por volta do século XVI, recebendo o nome de "folhas soltas"
ou "volantes".
Por
volta de 1750, alguns anos depois da colonização é que apareceram os primeiros
poetas da LC ainda na oralidade. A oralidade marca o cordel, pois trata-se de
uma literatura que é feita não apenas para se ler, mas para também se ouvir. Permaneceu
por um longo período sem nome sendo batizada de poesia popular. Os poetas do
improviso, como são vistos esses primeiros cordelistas, são os precursores da
LC escrita. Os registros são muitos vagos, sem consistência confiável, de
repentistas ou violeiros antes de Manoel Riachão ou Mergulhão, mas Leandro
Gomes de Barros, nascido no dia 19 de novembro de 1865, teria escrito a peleja
de Manoel Riachão com o Diabo, em fins do século 20.
O
cordelista, nos primórdios da LC, era o homem comum, da roça, geralmente sem
estudos acadêmicos. Era o trabalhador que realizava os serviços braçis geralmente sem prestigio social. Porém através dos cordéis podemos perceber que os cordelistas
não eram desinformados: conheciam as lutas diárias do povo, os problemas
sociais, e apesar de não possuírem partidarismo político sabiam da política. A
associação do cordelista com o público se refletia na escrita. Na atualidade, a
LC é composta por uma classe variada de escritores de níveis de escolaridade
também variados, mas ainda é uma forma de falar do povo.
Sobre a importância da LC e a aplicação dos
mesmos critérios de avaliação da LC para a literatura "culta",
Oliveira (2014, p.93) comenta:
Nem se
discute a importância qualitativa dos folhetos pelos milhares e milhares de
títulos que povoam as livrarias e feira do Brasil. No que diz respeito à
qualidade literária, também merece toda a atenção. Neste ínterim, poderíamos
reconhecer o erro que perdurou por longo tempo em querer “medir o valor dos
poemas populares aplicando-lhes os critérios que servem para a literatura
oficial ou culta”, declara Raimundo Cantel, p. 371.
Na prática, a LC, como coloca Oliveira (2014,
p.7), é "um veículo de informação de notícias políticas e campanhas
publicitárias de secretarias de saúde dentro de um modo de fazer poesia e humor
ao mesmo tempo". Os folhetos materializam a literatura e são agrupados em
"ciclos". Os ciclos variam de acordo com os pesquisadores. Adotaremos
aqui a classificação apresentada por Irani Medeiros (2004). Segundo a
pesquisadora, a LC é dividida em alguns ciclos, como vemos: Ciclo da Utopia,
Ciclo do Marido Logrado, Ciclo do Demônio Logrado, Ciclo dos Bichos que Falam,
Ciclo Erótico da Obscenidade, Ciclo de Exemplos e Maldições, Ciclo Heroico ou
Fantástico, Ciclo Histórico e Circunstancial, Ciclo do Amor e Bravura, Ciclo da
Súplica e o Ciclo da Lamúria. Vão desde os de cunho de utilidade pública ao de
satirização. Vale, no entanto,
lembrar que o folheto não está preso a um ciclo. Na atualidade nem
todos os folhetos são expostos em cordas, nas feiras; são também encontrados em
bancas de jornal expostos em espaços únicos, não acavalados como antes. A
título de curiosidade, o termo cordel,
não condiz com a fala nordestina visto que a nomenclatura utilizada no Nordeste
é cordão ou barbante, mas a forma de se expor os livretos determinou o nome das
obras.
Para
a confecção das capas, adota-se a xilogravura, arte feita no entalhe da madeira
transformando-a em imagens rústicas. As imagens retratam a histórias. É um
trabalho artesanal. Existem outros tipos de capas que os autores utilizam, mas
a xilogravura é a forma própria da LC.
Apesar
dos registros da LC serem recentes como literatura, há uma academia voltada
para a sua apresentação e preservação, a Academia Brasileira de Literatura de
Cordel (ABLC), situada no estado do Rio de Janeiro. Em seu site de mesmo nome
podemos encontrar o histórico da LC, embora possamos também encontrar
informações em outras fontes; diversos cordéis e cordelistas brasileiros, como
também dados da composição de um cordel e a forma de se criar um. Ainda no site
o anseio do poeta que sua produção se torne de objeto de estudo pode ser vista
na seguinte fala: "[...] esta maravilhosa manifestação da inteligência
brasileira merecerá no futuro, um estudo mais profundo e criterioso de suas
peculiaridades particulares" (ABLC).
Referências
ABLC. Academia Brasileira de Literatura de
Cordel. Disponível em: <www.ablc.com.br>. Acesso em 01 dez. 2014.
MEDEIROS, Irani. Literatura de cordel: origem e classificação. In: BATISTA, Maria
de Fátima Barroso de Mesquita, et. Al. Estudos em Literatura Popular.
João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2004.
OLIVEIRA, Davi da Silva. Cordel. São Paulo:
Clube de autores, 2014.
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