terça-feira, 9 de dezembro de 2014

LITERATURA DE CORDEL - pincelada histórica

Fonte: jeanwyllys.com.br



Uma pincelada sobre esta literatura popular que cada vez mais se insinua e se incide no meio acadêmico.


A Literatura de Cordel (LC), como conhecida no Brasil, teve suas origens em Portugal associada à cantoria trovadoresca, chegando ao Brasil com os colonizadores, e se instalando, inicialmente, em Salvador, Bahia. Ali a convergência cultural aconteceu enquanto Bahia era a capital do Brasil, sendo que em 1763 a capital foi transferida para o Rio de Janeiro. Da Bahia, a Literatura se espalhou para os demais estados do nordeste, posteriormente. Isso pode justificar a predominância do solo nordestino no desenvolvimento da LC.
Mas antes da sua presença no Brasil, suas vozes já eram ouvidas entre outros povos: a LC já existia na época em que as lutas pela Península Ibérica movimentavam greco-romanos, fenícios, cartaginenses, saxões, dentre outros. A chegada em solo português aconteceu por volta do século XVI, recebendo o nome de "folhas soltas" ou "volantes".
Por volta de 1750, alguns anos depois da colonização é que apareceram os primeiros poetas da LC ainda na oralidade. A oralidade marca o cordel, pois trata-se de uma literatura que é feita não apenas para se ler, mas para também se ouvir. Permaneceu por um longo período sem nome sendo batizada de poesia popular. Os poetas do improviso, como são vistos esses primeiros cordelistas, são os precursores da LC escrita. Os registros são muitos vagos, sem consistência confiável, de repentistas ou violeiros antes de Manoel Riachão ou Mergulhão, mas Leandro Gomes de Barros, nascido no dia 19 de novembro de 1865, teria escrito a peleja de Manoel Riachão com o Diabo, em fins do século 20.
O cordelista, nos primórdios da LC, era o homem comum, da roça, geralmente sem estudos acadêmicos. Era o trabalhador que realizava os serviços braçis geralmente sem prestigio social. Porém através dos cordéis podemos perceber que os cordelistas não eram desinformados: conheciam as lutas diárias do povo, os problemas sociais, e apesar de não possuírem partidarismo político sabiam da política. A associação do cordelista com o público se refletia na escrita. Na atualidade, a LC é composta por uma classe variada de escritores de níveis de escolaridade também variados, mas ainda é uma forma de falar do povo.
Sobre a importância da LC e a aplicação dos mesmos critérios de avaliação da LC para a literatura "culta", Oliveira (2014, p.93) comenta:
Nem se discute a importância qualitativa dos folhetos pelos milhares e milhares de títulos que povoam as livrarias e feira do Brasil. No que diz respeito à qualidade literária, também merece toda a atenção. Neste ínterim, poderíamos reconhecer o erro que perdurou por longo tempo em querer “medir o valor dos poemas populares aplicando-lhes os critérios que servem para a literatura oficial ou culta”, declara Raimundo Cantel, p. 371.
Na prática, a LC, como coloca Oliveira (2014, p.7), é "um veículo de informação de notícias políticas e campanhas publicitárias de secretarias de saúde dentro de um modo de fazer poesia e humor ao mesmo tempo". Os folhetos materializam a literatura e são agrupados em "ciclos". Os ciclos variam de acordo com os pesquisadores. Adotaremos aqui a classificação apresentada por Irani Medeiros (2004). Segundo a pesquisadora, a LC é dividida em alguns ciclos, como vemos: Ciclo da Utopia, Ciclo do Marido Logrado, Ciclo do Demônio Logrado, Ciclo dos Bichos que Falam, Ciclo Erótico da Obscenidade, Ciclo de Exemplos e Maldições, Ciclo Heroico ou Fantástico, Ciclo Histórico e Circunstancial, Ciclo do Amor e Bravura, Ciclo da Súplica e o Ciclo da Lamúria. Vão desde os de cunho de utilidade pública ao de satirização. Vale, no entanto, lembrar que o folheto não está preso a um ciclo. Na atualidade nem todos os folhetos são expostos em cordas, nas feiras; são também encontrados em bancas de jornal expostos em espaços únicos, não acavalados como antes. A título de curiosidade, o termo cordel, não condiz com a fala nordestina visto que a nomenclatura utilizada no Nordeste é cordão ou barbante, mas a forma de se expor os livretos determinou o nome das obras.
Para a confecção das capas, adota-se a xilogravura, arte feita no entalhe da madeira transformando-a em imagens rústicas. As imagens retratam a histórias. É um trabalho artesanal. Existem outros tipos de capas que os autores utilizam, mas a xilogravura é a forma própria da LC.
Apesar dos registros da LC serem recentes como literatura, há uma academia voltada para a sua apresentação e preservação, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), situada no estado do Rio de Janeiro. Em seu site de mesmo nome podemos encontrar o histórico da LC, embora possamos também encontrar informações em outras fontes; diversos cordéis e cordelistas brasileiros, como também dados da composição de um cordel e a forma de se criar um. Ainda no site o anseio do poeta que sua produção se torne de objeto de estudo pode ser vista na seguinte fala: "[...] esta maravilhosa manifestação da inteligência brasileira merecerá no futuro, um estudo mais profundo e criterioso de suas peculiaridades particulares" (ABLC).

Referências

ABLC. Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Disponível em: <www.ablc.com.br>. Acesso em 01 dez. 2014.

MEDEIROS, Irani. Literatura de cordel: origem e classificação. In: BATISTA, Maria de Fátima Barroso de Mesquita, et. Al. Estudos em Literatura Popular. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2004.

OLIVEIRA, Davi da Silva. Cordel. São Paulo: Clube de autores, 2014.

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